Curiosidades

O sonho de ter um vinil com sua produção pode ser possível: Inaugurada a Vinyl-Lab, serviço de cortes de vinil em São Paulo

Artur Joly e DJ Bruno Niggas

Esses dois “malucos”, Artur Joly, um dos magos dos sintetizadores analógicos no Brasil e cabeça da gravadora e estúdio Reco-Master/Reco-Head e DJ Bruno Niggas, colocaram em funcionamento um torno de corte de vinis do início da década de 60, que só deve ter algumas dezenas pelo mundo.

A máquina é um Neumann VMS 62 e está em operação e já passou pelas mãos do produtor Xerxes de Oliveira, que tentou fazê-la funcionar numa parceria com a Red Bull a 12 anos atrás. “O Bruno Niggas comprou do Xerxes, que havia comprado da viúva desse antigo dono. Vai saber que masters essa máquina não criou? Isso daria um documentário”, entusiasma-se Joly.

A MÁQUINA DE DUBPLATES EM 2003

O que conta a história, tudo iniciou com um boato. Uma máquina de cortar vinis à venda por um tal de “Carlos Moura dos Estúdios Reunidos”. A partir dessa informação, os produtores Xerxes de Oliveira e Paula Bessa encontraram o torno em Vila Mariana com D. Valdívia, viúva de Carlos. Dois anos depois desse “primeiro encontro” eles, que formaram o Friendtronik, conseguiram comprar a máquina. “Foram dois anos fazendo shows do Friendtronik e entregando o cachê direto para a D. Valdiva” lembra Paula.

Após o transporte da máquina era preciso partir para o segundo passo: tentar fazê-la funcionar. Considerando que o torno estava parado por muito tempo e que o manual de instruções estava em alemão, Xerxes buscou informação na internet e achou um website de uma empresa que, além de reparos, tinha projetos de partes para máquinas que eles mesmos desenvolviam. “A máquina estava aqui e a gente não fazia a mínima ideia do que encaixava onde.”

O tempo passou e Xerxes conheceu o idealizador e realizador da Red Bull Music Academy, Many Ameri. “Eles tinham curiosidade para saber esse negócio da máquina. O Renato (Lopes) acabou contando para o Many e pro pessoal todo da Red Bull o que tinha acontecido, que tinha uma máquina que daria para fazer dubplate aqui. E eles ficaram interessados em saber um pouco mais da história.” A proposta da Red Bull foi bancar o conserto e trazer o pessoal para poder executá-lo e ter um material documentando isso. “É um projeto paralelo que a gente tem e queremos fazer a experiência com você.”

Na hora de chamar auxílio, Xerxes lembrou-se do website contatado quando a máquina chegou na sua casa da primeira vez. Aquelas pessoas poderiam fazer o reparo. “Dois meses depois o Many me liga e fala que encontrou os caras, para eu mandar um e-mail falando dos reparos que tem que ser feitos e fotos da sua máquina. Vamos trazer eles para consertar.”

O trabalho de recuperação foi muito duro. Quando Ivo Studer, um suíço de 34 anos, há 5 trabalhando com reparo e desenvolvimento de projetos de máquinas de corte, chegou ao Brasil, tomou um susto. “Tava muito suja e em condições terríveis, era até engraçado. Quando eu entrei no quarto todas as peças estavam espalhadas, o que normalmente não acontece, uma vez que você monta a máquina você deixa-a ali.”

O final feliz dessa história estava cada vez mais perto. Foram duas semanas corridas trabalhando na máquina “Está ficando em ótima condição. Você realmente pode fazer um corte. O único problema no momento é que não temos a cabeça estéreo” conta Ivo.

Em 2003, a máquina de cortar disco em acetato, o dubplate, funcionava no Brasil. O que parece um sonho se realizando para muitos já era verdade para uma dupla que há sete anos botou os olhos no monte de ferro e viu que havia música por debaixo de tanto fiozinho.

O RESSURGIMENTO EM 2014

Torno Neumann VMS 62Para ressuscitar o tal torno, ideia que animou Joly como mais um desafio da construção musical analógica, ele fez um workshop em Nashville-EUA e relatou os infinitos e microscópicos detalhes para por em funcionamento uma máquina que não tem mais manual nem assistência técnica, além de diversas defasagens tecnológicas. “Isso aqui é um trabalho extremamente artesanal, são milhares de detalhes. Duas semanas para resolver o aquecimento da agulha; a aspiração, que puxa o resíduo e põe no vácuo, tem que colocar na medida certa… A agulha se você vacila quebra, e cada uma custa 250 euros (já quebramos 3!). Tem importação de disco que a Receita Federal pega se não estiver tudo certinho; a balança de precisão da agulha tivemos que esperar vir dos EUA; as distâncias do sulco, testa, o microscópio… Milhares de agravantes e depois que você resolve tudo você tira o som do disco, mas ainda não é um puta som”.

Os ajustes finais de padrões que enfim riscaram nos dubplates um som fiel ao da masterização aconteceram recentemente, com um técnico amigo que ajudou a arrumar a defasagem do sinal na cabeça da agulha. “São muitos fatores que a gente foi descobrindo na raça”, conta Joly, animado e aliviado, que já diz estar cuidando de um novo torno que veio da Jamaica para a Vinyl-Lab, e agora busca divulgar os serviços específicos e os detalhes para o público desse corte de dubplates.

“É um serviço que tem que ficar todo dia de olho, atento”, opina Joly, ao falar das especificidades do torno que voltou à vida. “Acho muito difícil alguém fazer nesse mesmo esquema. Talvez venha uma outra Polysom, mas conseguir uma máquina como essa e produzir como nós, é muito difícil, muito específico”.

Vídeo demo do torno Neumann VMS 62 em ação:

httpv://vimeo.com/99547411

OS DUBPLATES DA VINYL LAB

Detalhes DubplateOs dubplates da Vinyl-Lab são cortados em PVC, que garantem maior durabilidade e, no caso de DJs, são ideais para scratch. “Nosso público alvo é produtores, DJs… Você que é um cara que tem suas produções e quer tocá-las e testar num clube antes de fazer uma tiragem maior, a Vinyl Lab é o ideal”. O corte da Vinyl Lab é em mono, como sempre foi o costume na cultura dub/reggae. “O estéreo tem muito problema de cancelamento de fase. Outra vantagem é que vários mixers têm problemas com cabo estéreo”, explica Joly, dizendo que essa distinção entre mono e estéreo não altera a qualidade geral do dubplate, se ele estiver bem finalizado. “Se o cliente quiser mandar o som cru, nós masterizamos aqui na Reco-Master e daí eu faço o disco”, diz Joly, inserindo a Vinyl Lab no contexto de seu estúdio. “Se chegar o áudio muito tosco, com barulho de MP3, áudio estourando, vou analisar e dizer que seria melhor fazer uma master antes”.

REFERÊNCIAS E FONTES

http://www.deepbeep.com/blog/vinyl-lab-estreia-servico-de-corte-de-vinis-em-sp
http://rraurl.com/cena/249/A_Maquina_de_dubplate

Texto original da deepbeep: Jade Augusto Gola / Fotos e vídeo: Ana Shiokawa
Infos Bruno Niggas: facebook.com/coletivovinilearte
Infos Artur Joly: deepbeep.com/djs/arthur-joly
Estúdio Reco-Master: recomaster.com

CleverDJ

02 de julho de 2014

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